terça-feira, 22 de março de 2011

ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO E FAIR TRADE


Recente crise financeira nos países de centro, aporte de recursos do Estado em grande escala na economia nos países desenvolvidos, esgotamento dos recursos naturais, catástrofes naturais, guerras por territórios e recursos, problemas ambientais com conseqüências de difícil previsão, desemprego e subemprego são apenas alguns dos temas mais recorrentes nas manchetes de qualquer jornal e ilustram que a sociedade prescinde de uma nova forma de pensar, refletir e se colocar no planeta de forma a criar alternativas ao livre mercado, minimizando suas conseqüências indesejáveis.
Para a reflexão que se inicia é importante resgatar as idéias de John Gray (1999) que afirma que o livre mercado criou um novo tipo de economia, onde os preços de todos os bens, inclusive o trabalho, mudam sem levar em consideração os seus efeitos sobre a sociedade.
Com um rápido olhar sobre os problemas atuais que afligem grande parte das populações do globo é possível perceber que insistir em formas de organização social que beneficie somente os mais prósperos, sejam nações, organizações ou indivíduos, não leva à superação da pobreza, da violência e das injustiças, tão pouco provê o cidadão comum de seus direitos fundamentais, quais sejam, alimentação, saúde, educação, moradia e segurança.
Recentemente no Brasil com o ressurgimento do tema Economia Solidária tem ganhado destaque iniciativas populares, iniciadas na Europa nas décadas de 60 e 70 relacionadas às práticas de Comércio Justo ou Équo Solidário que tem por princípios relações econômicas e comerciais que respeitem e valorizem aspectos relacionados à justiça social, transparência, preço justo, solidariedade, desenvolvimento sustentável, respeito ao meio-ambiente, promoção da mulher, defesa dos direitos das crianças, transferência de tecnologia e empoderamento dos indivíduos. O Comércio Justo ou Équo Solidário – Fair Trade, é uma rede de comercialização alternativa ao comércio tradicional, que considera nas negociações valores éticos, incluindo aspectos sociais e ecológicos (OLIVEIRA & MELO, 2003).
Dessa forma, o comércio justo torna-se importante instrumento de transformação social porque necessariamente vai propor uma forma de relação não impessoal entre mercado, produtor e consumidor.
Nessa perspectiva e considerando a importância destas reflexões para estudantes de Administração, futuros gestores em organizações dos três setores é preciso pensar sobre em que medida os cursos de administração refletem, na formação do profissional de administração, os novos desafios gerenciais trazidos com a perspectiva do Fair Trade, entendido em sua dimensão de intervenção na cadeia de produção e na matriz de comércio mundial
            Tratando-se especificamente do profissional de Administração, ao serem consideradas as mudanças vividas pelas organizações; é possível afirmar, que a área de atuação do administrador apresentou sensíveis alterações. Os impactos sentidos pelos setores social, cultural, econômico e político determinaram uma ampliação do escopo de atuação do administrador. Percebe-se, no decorrer da história, uma passagem da necessidade básica da simples produção que visava ao atendimento da demanda, para um momento que determina a necessidade de rapidez, qualidade, flexibilidade e capacidade de aprendizado contínuo para a sobrevivência das organizações de forma sustentável.
            Tratando-se da formação dos administradores e das competências e habilidades necessárias a esse profissional, as considerações abrangem os diversos níveis de formação, dos cursos de graduação à pós-graduação. A estruturação da educação em Administração deve levar em conta a natureza das atividades de gestão, que significa ir além das funções com as quais o administrador trabalha. Já não é suficiente a ênfase no ensino das funções de marketing, finanças, recursos humanos, produção, logística e estratégia, mesmo que elas sejam a maiores ocupações dos profissionais. A formação do profissional em Administração deve refletir a prática dos administradores nas organizações flexíveis. Formar gerentes implica estender as atividades de sala de aula até a organização onde eles atuam, causando algum impacto sobre o seu comportamento. O que se espera dos programas de formação de administradores é que as pesquisas e estudos sejam direcionados aos problemas relevantes do ambiente. (MINTZBERG E GOSLING, 2003, p. 65)
              É importante ainda ressaltar a necessidade de formação de administradores sintonizados com o ambiente de negócios brasileiro. É imprescindível que tanto as escolas como as empresas passem a observar as características econômicas, culturais, sociais e políticas locais para estudar e implementar a gestão. O maior objetivo do ensino em Administração é ensinar a melhor prática. Porém, a melhor prática é um alvo móvel, que se altera de acordo com as condições ambientais. Ela só é possível para os administradores que dispõem de habilidades no exercício de sua profissão e de criatividade suficiente para gerar inovações. A melhor prática deve ser desenvolvida constantemente a partir do conhecimento dos melhores resultados atingidos, da interpretação das circunstâncias que os determinaram e do acompanhamento das mudanças (BETHLEM, 1999, p. 37)
Considerando as dimensões abordadas sobre o aprendizado pode-se afirmar que a lógica de produção e comercialização que o Fair Trade representa, começa a repercutir em outros campos do saber humano, assim como em sua disseminação. Entende-se que dentre os campos formais do saber que encontram relação direta com essa temática, a administração parece ser um dos mais próximos, uma vez que os conteúdos de seu ensino implicam na problemática dos fins do ato administrativo, de sua dimensão ideológica e, mesmo, de sua definição (AKTOUF, 2005).
Os acadêmicos brasileiros, historicamente, convivem com conhecimentos legitimados e produzidos em outros países, mais acentuadamente nos EUA. Mesmo nos EUA diversos pesquisadores não têm o poder de governar a “grande academia”. No Brasil poucas são as chances de se selecionar de forma consciente os paradigmas ou orientações acadêmicas. Em sua grande maioria as disciplinas ou áreas da administração e as atividades correspondentes de produção e difusão do conhecimento acadêmico estão subordinadas a interesses e perspectivas dominantes de racionalidade positivista (FARIA e GUEDES, 2005).
Emerge daí a necessidade de reflexão sobre novos modelos e práticas organizacionais que contemplem as realidades e cultura local. Pelas suas especificidades o País necessita e é capaz de promover estudos e reflexões críticas que possam impulsionar mudanças nas percepções de estudantes, futuros gestores, gestores educacionais, etc., sobre a forma de se fazer negócios que envolvam uma maior preocupação com os impactos de suas ações “gerenciais”. Isso envolve aspectos relacionados ao equilíbrio ecológico, geração de trabalho e renda e eqüidade social.

Referências:
AKTOUF, Omar; Ensino de Administração: por uma pedagogia para a mudança. Organizações & Sociedade - v.12 - n.35 - Outubro/Dezembro - 2005
BETHLEM, A. Gestão de negócios – uma abordagem brasileira. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
GRAY, J. Falso amanhecer: os equívocos do capitalismo global. Rio de Janeiro: Record, 1999.
OLIVEIRA, M. K. S.; MELO, R. Redes solidárias e mercado justo: alternativas para a planetariedade sustentável. T & C Amazônia, Manaus, v. 1, n. 3, dez. 2003.



FARIA, Alexandre; GUEDES, Ana; Movimento Cultural nos Estudos Organizacionais: uma abordagem interdisciplinar, focada no consumo e na globalização. Cadernos EBAPE.BR, v. III, n. 1, março, 2005.
MINTZBERG, H.; GOSLING, J. Educando administradores além das fronteiras. São Paulo, Revista de Administração de Empresas, v. 43, n° 2, abr/mai/jun. 2003.

sábado, 12 de março de 2011

COMÉRCIO JUSTO: DE QUE SE TRATA?

Olá!!!

Na realidade esse blog nasce do meu sonho de "trocar em miúdos" minha dissertação de Mestrado e com isso, quem sabe, iniciar aqui um trabalho que possa, ainda que muito modestamente, servir para criar alternativas para geração de renda para os entrevistados que tão bem me receberam e me acolheram, contando seus sonhos, suas dificuldades e esperanças.

Algumas coisas foram marcantes nesta trajetória que começou em 2006 assistindo a um programa da Globonews que falava justamente sobre uma ONG na França que fazia o trabalho de percorrer os Países em desenvolvimento na busca por comunidades de trabalhadores que pudessem ter seus produtos aceitos em mercados do norte e receber por isso um preço justo. Fiquei um bom tempo martelando aquilo na minha mente...

Meses depois  em um programa de capacitação oferecido pelo MEC no âmbito do projeto Escola de Fábrica em Belo Horizonte, no intervalo entre uma palestra e outra, fui à uma livraria no shopping e encontrei lá um único livro  do Prof. Ignacy Sachs intitulado: INCLUSÃO SOCIAL PELO TRABALHO.

As coisas começavam então a tomar forma na minha cabeça. Afinal, o programa de TV, a capacitação e o livro traziam, simultaneamente, respostas (ou mais dúvidas ainda...) para muitas das minhas inquietações, ou seja, como oferecer para as populações menos favorecidas oportunidades reais de emancipação e empoderamento através de suas próprias capacidades, no mundo que lhes é próprio por meio do trabalho digno?

No curso de Mestrado, enquanto cursava as diciplinas ficava o tempo todo pensando como fazer uso deste tempo privilegiado de estudos para conseguir escrever algo que viesse ao encontro destas antigas inquietações e quem sabe transformar esse aprendizado em uma atividade que pudesse ser útil a tantos quantos se identifiquem com o tema.

Assim nasceu a pesquisa que procurou compreender sob o enfoque cultural aspectos favoráveis e limitantes para a implantação das práticas de comércio justo para os artesãos do município de Machado - MG.

Mas o que é o Comércio Justo?

Comércio justo (Fair Trade em inglês) é um dos pilares da sustentabilidade econômica e ecológica (ou econológica, como vem sendo chamada).
Trata-se de um movimento social e uma modalidade de comércio internacional que busca o estabelecimento de preços justos, bem como de padrões sociais e ambientais equilibrados, nas cadeias produtivas.
A idéia de um comércio justo surgiu nos anos 1960 e ganhou corpo em 1967, quando foi criada, na Holanda, a Fair Trade Organisatie. Dois anos depois, foi inaugurada a primeira loja de comércio justo. O café foi o primeiro produto a seguir o padrão de certificação desse tipo de comércio, em 1988. A experiência se espalhou pela Europa e, no ano seguinte, foi criada a International Fair Trade Association, que reúne atualmente cerca de 300 organizações em 60 países.
O movimento dá especial atenção às exportações de países em desenvolvimento para países desenvolvidos, como artesanato e produtos agrícolas. Em poucas palavras, é o comércio onde o produtor recebe remuneração justa por seu trabalho.
Alguns países têm consumidores preocupados com a sustentabilidade e que optam por comprar produtos vendidos através do comércio justo. Esta opção ética tem permitido aos pequenos produtores de países tropicais viver de forma digna ao fazeram a opção pela agroecologia, como agricultura orgânica.
O comércio justo é definido pela News! (a rede européia de lojas de comércio justo) como "uma parceria entre produtores e consumidores que trabalham para ultrapassar as dificuldades enfrentadas pelos primeiros, para aumentar seu acesso ao mercado e para promover o processo de desenvolvimento sustentável. O comércio justo procura criar os meios e oportunidades para melhorar as condições de vida e de trabalho dos produtores, especialmente os pequenos produtores desfavorecidos. Sua missão é promover a eqüidade social, a proteção do ambiente e a segurança econômica através do comércio e da promoção de campanhas de conscientização".  (http://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rcio_justo)

Bom... fato é que a pesquisa foi feita, muitas perguntas foram respondidas e outras tantas surgiram... Mas duas "crises" coexistem neste momento: 1ª - a necessidade de "popularizar" a pesquisa e usar seus resultados na busca de soluções para os artesãos estudados e 2ª compreender o Comércio Justo e seus princípios em uma perspectiva cultural,  ou seja, na contramão dos sistemas de produção e cultura de consumo ora vigentes, tendo em vista os imperativos da sociedade de consumo.

Aguardo suas contribuições, sugestões, tópicos para discussões, etc... tudo que possa servir de combustível para seguir adiante com esse trabalho. Minha vontade??? parcerias, estudos comparativos, idéias, enfim... alguma ajuda para que tudo isso saia do plano das idéias e do papel para servir de instrumento de transformação.

Abraços!